2013/10/14

São cortes"condições de recurso" stupid

No elevador os vizinhos do sétimo:
- Olá bom dia!
- Bom dia, como vai?
E continuaram muito concentrados numa conversa entaramelada sobre as condições de recurso que não deu para entender.

Eram umas 10 da manhã, ia naquele estado de espírito semimatinal, disposto a encarar o mundo de um ângulo mais favorável. Já na rua, fiz uma festa ao cão da vizinha, que anda sempre sem açaimo. 
- Olá viva! Ai o Luizinho, está um amor, já tão crescidinho! e fiz-lhe um afago na cabeça que ele sacudiu, reprovador.
- Então e as "condições de recurso" - atirou-me, à laia de bom dia, a mãe, a D. Amélia, que se virou logo para o Sr. Martins, a continuar a conversa, pródiga em ademanes  que eu até penso que ali há coisa.
 Ia tomar a bica e ler o jornal numa atitude de bom-serás, disposto mesmo a cumprimentar a madame Lantejoulas, brilhos que lhe sobem dos sapatos cravejados de vidrilhos até ao cabelo emplumado quando, mal nada, um enorme sururu. A Micas corria na dianteira, e vociferava “as condições de recurso”, “as condições de recurso”, o casal bem-posto ia-lhe na peugada, passo estugado mas sem se descompor, atrás, muito vermelho ia o Mestre Arraial braços ao ar, gesto largo gritava que se ouvia no Campo Grande, agarra! agarra! Ele que é todo trititi trititi trititi a tudo que é criança ou mesmo bebé para meter conversa com os adultos, bravejada "as comissões de recurso", "as comissões de recurso". Pelas laterais, já sobre o canteiro das flores espinoteava a miudagem e juntavam-se à festa entre risadas e marotices “as condições de recu” as “condições de recu”.
- Que se passa, que se passa? - interrogava eu.
- Então não está a ver? São as "condições de recurso", anda aqui, fugida, uma "condição de recurso"
- Mas… mas… não deu para mais já lá iam, rabo alçado, relvado a dentro. 

Já me sentava com o meu vizinho, fiz sinal, queixo esticado para a Tânia, atrás do balcão: é a bica do costume quando o Sr. Lacerda se vira para mim
- Então não quer hoje antes uma "condição de recurso"? - Ao meu espanto e antes que lhe perguntasse de que estava a falar ele adiantou-se
- Já vejo que não viu o vígaro do Portas na conferência de imprensa a anunciar os cortes nas pensões de sobrevivência.
-Vi, assim de raspão que não aguento "banha da cobra". Mas não o ouvi falar em cortes.
- Pois é isso. Ele trocou-lhe o nome!
-Como assim?
- Chamou-lhes “condições de recurso”. Aos cortes. O vigarista vai aplicar uma “condição de recurso” ao pessoal da função pública e a gente que se lixe.
- Ahhh!!... esse trafulha... agora tou a perceber…