2013/06/02

A ARA contra a Guerra Colonial e o Fascismo

- Aluga aí um apartamento mobilado, rapidamente. Tens dois dias - disse-lhe eu para o apressar e dei-lhe uma zona larga de Lisboa para procurar.

- Eh pá, então alugas-me um apartamento clandestino assim, num prédio destes, no meio da avenida dos EUA com a Av de Roma?... - repreendia eu o Martins que era um camarada completamente "limpo" e que ficaria de quarentena, sem qualquer actividade política, enquanto precisássemos da casa.

- Olha olha!... queres melhor? Num sítio chique, assim, é que a PIDE não desconfia.
Na realidade não conhecia ninguém que vivesse perto do local e como a urgência era máxima,  conformei-me.

O apartamento iria servir de refúgio para o Ângelo de Sousa quando fugisse da Base Aérea 3, em Tancos, após a sabotagem dos aviões e helicópteros e serviria ainda para os últimos preparativos da sabotagem, nomeadamente a simulação da colocação das cargas explosivas e incendiárias nos aviões e helicópteros, ligações da complexa rede elétrica, tudo isto às escuras ou com um fiozinho de luz de minúsculas lanternas. A simulação foi exercitada até a lição ficar sabida de cor e salteada pelo Carlos Coutinho e o Ângelo de Sousa. O António Eusébio também ajudava à festa mas o papel dele era ficar de fora do hangar a vigiar a entrada.

Correu tudo muito bem. Exceto o susto que apanhei mas felizmente só 4 anos depois, em 1975, já a revolução andava à solta pela rua, quando soube que no andar de cima do nosso quartel-general morava um familiar meu. Era de todo inconveniente que por acaso ou azar me visse por ali. Meter familiares ou amigos nestes assuntos era de todo, mas de todo mesmo, inconveniente a menos que programado.
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Na imagem: Nota da PIDE publicada nos jornais e na TV, na expectativa de que alguém a ajudasse a encontrar o Ângelo. Não encontrou. O Ângelo foi a salto para o estrangeiro e algum tempo depois voltou para a clandestinidade, para lutar na ARA, com a Fernanda, sua namorada à data dos factos. Tiveram três lindas filhas, hoje umas senhoras. 
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Os nomes citados são verdadeiros excepto o de "Martins" que é pseudónimo. A verdadeira identidade nunca foi revelada por razões familiares porque era uma pessoa muito próxima de um ministro de Marcelo Caetano.
 

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