2012/12/13

Um Comunicado da PIDE/DGS a um ano do seu fim

Como bem se indica na imagem isto diz respeito a 1973 portanto nada de confundir com a realidade atual. Por ora, em 2012, o governo de Portugal dos credores que dirige Portugal e onde ganha visibilidade o ministro Abebe Selassie, assessorado pelo Sr Passos Coelho, o Dr. Relvas, e o Sr.Gaspar estão apenas, como lhes compete, a tentar salvaguardar os interesses dos banqueiros lá de fora e cá de dentro. E de caminho, claro, também os seus, nem faria sentido admitir o contrário. Receiam os portugueses ser atirados para a miséria e que Portugal regrida umas dezenas de anos? Paciência, pensam eles e, "custe o que custar", levarão a cabo a sua missão... se nós consentirmos. 
 
Ofereço-vos aqui um comunicado da PIDE que, com Marcelo Caetano, se travestiu com o nome de DGS. É a conversa da PIDE para "o Bom Povo Português" com os pides preocupados com "as gentes ordeiras e trabalhadoras" prejudicadas por estes "terroristas" que tinham a extrema preocupação de não atingir pessoas, nem mesmo a eles os torturadores e assassinos da PIDE/DGS.
(Um clique nas imagens permite uma leitura sem óculos.)

2012/12/11

Jorge Martins apresenta-nos Maria Gomes

 
Maria Gomes é de Castelo Branco, tem duas filhas e dois filhos do primeiro casamento com António Rodrigues. Após ter enviuvado casou com Fernão Martins de quem não teve filhos.
É filha de Alonso Gomes, mercador, natural de Arronches e de Helena Fernandes natural de Castelo Branco.
Maria Gomes está presa há dois anos, período que durou os interrogatórios e o julgamento.
 
Convoquem todos os vossos “amigos” pelo Facebook para a cerimónia piedosa que decorre no próximo domingo, em Lisboa, a seguir à Santa Missa, no Largo da Ribeira Velha onde será erguida a fogueira e, após o sermão do padre Manuel Rebelo, queimada viva Maria Gomes, para salvação da sua e das nossas almas.
 
Não é bem assim, concedo, e não havia ainda, julgo eu ,nem Twiter nem Facebook e o dia exato é 5 de Setembro de 1638. Esclareça-se que Maria Gomes tinha então 117 anos de idade e foi a mais velha cristã-nova a ser "salva" pelo fogo purificador da Santa Inquisição.
Cumpre acrescentar que Maria Gomes esteve presa 2 anos, antes de condenada, foi submetida à brutal tortura da polée a interrogatórios e ameças sem fim. Como mandava o regulamento do Santo Ofício, nunca chegou a saber do que a acusavam em concreto para além de “seguir a lei de Moisés” nem quem a acusou. Era obrigada, na esperança de se salvar da fogueira a denunciar o que pensava e não pensava “em seu coração” e quem poderia ter, como ela, trato com o diabo ao “ser crente na Lei de Moisés”
Com ela foram queimados vivos nesse dia mais três mulheres e três homens.
Crueldade e Cinismo
Os inquisidores têm perfeita consciência da hediondez dos crimes e das consequências negativas para a imagem da Igreja, como agora se diria, das suas fogueiras onde chegavam a queimar os restos mortais de quem não tinham conseguido condenar em vida. Por isso a Inquisição condenava à fogueira mas depois relaxava (entregava) à justiça secular a execução. E fazia-o com requinte: assim o sermão do padre Manuel Rebelo não podia esquecer as palavras canónicas para Maria Gomes:
“… a condenam e relaxam à justiça secular a quem pedem com muita insistência e eficácia se aja com ela benigna e piedosamente e não proceda à pena de morte nem efusão de sangue.” Condenam à morte e pedem para que “não se proceda à pena de morte”. E ai dos Magistrados que não cumprissem à risca e prontamente as ordens da Inquisição. “Eram excomungados e tratados como hereges”.
A inquisição foi estabelecida em 1536, no reinado de D. João III e extinta ou, se preferirem, enviada para os infernos, em 1775, pelo Marquês de Pombal. A congregação desapareceu em Portugal mas continuou sob a proteção do papado e de transformação em transformação tem hoje como sua herdeira a Congregação para a Doutrina da Fé. Sim que uma congregação sagrada, com aquele passado de salvação de tantas almas, não se deve extinguir, mesmo que já não tenha lume para fogachar. Mas creio que o Papa, há uns anos, quando estava na moda pedir desculpa também a pediu para "certos exageros" da Inquisição.
Tudo isto e muito mais, relata Jorge Martins, historiador um dos maiores, senão o maior conhecedor da história dos Judeus portugueses, no seu muito interessante livro
MARIA GOMES CRISTÃ-NOVA, 117 ANOS A MAIS IDOSA VÍTIMA DA INQUISIÇÃO
agora editado pela Vega.
Jorge Martins conta-nos com proximidade e rigor o que se passou e como passou com Maria Gomes, essa nossa concidadã e avó, tão distante e tão próxima, trazida até nós como uma mulher igual a todas as mulheres que connosco no quotidiano convivem. Mas o autor oferece-nos também o regimento da Inquisição e o Sermão daquele Auto-de-Fé.
Post Scriptum: esqueci-me de dizer algo essencial. É que isto não era condenar por condenar, incendiar por incendiar, é que quem pagava todas as despesas e todo a aquele exército de "irmãos" dominicanos do Santo Ofício e enriquecia o seu inchado e sumptuoso património eram os bens, logo arrestados, dos judeus nacionais convertidos à força, denominados cristãos-novos.
--------------
Li o livro fiquei a saber melhor o que nós somos e de onde viemos. E assim, até consigo perceber melhor que ainda se vá consentindo no governo de Portugal estes Passos e Relvas, estes Gaspares e Borges. (Pequeno Borges. Não confundir com o verdadeiro, o argentino José Luís).
Estou esperançado, no entanto, que lá para Abril ou Maio (são meses bons) consigamos um bom auto-de-fé para estes “crentes na lei dos Mercados”. Auto-de-fé mas apenas digital, sem fogo nem polé. Que é que acham.

2012/12/09

A Igreja e a Sexualidade

Um dos cafés que frequento tem o CM e, com o devido cuidado, folheio-o. Para saber se aquelas raparigas das últimas páginas continuam muito bonitas, para ver se o artigo de opinião da página 3 é de autor que mereça respeito. E há-os, vários. Ontem li "Fé e pensamento" do padre, Fernando Calado Rodrigues.
O Início da leitura surpreendeu-me. Era um apelo à razão, à racionalidade sobre assunto de fé. Padre, o autor… aumentava a minha expectativa. Prossegui:
“Amanhã celebramos um dos últimos dogmas definidos pela Igreja: o da Imaculada Conceição. Foi há quase 160 anos que o Papa Pio XI o proclamou.

"Não foi uma imposição do papado aos fiéis. Mas foi uma vivência dos crentes que se impôs à Igreja. Séculos antes da proclamação dogmática da concepção da Virgem Maria sem mácula, já se acreditava e celebrava essa verdade.”
... “Contudo, também ela [a Igreja] reconheceu que jamais os poderá compreender perfeitamente e que nunca os conseguirá explicar e provar de uma forma puramente racional.
Maria, escolhida por Deus para ser a Mãe do Salvador, foi preservada do pecado, mas não foi dispensada de se interrogar nem de encontrar razões para a sua fé: é esta a perspetiva evangélica.
“Quando o Anjo lhe anuncia que vai ser a Mãe de Jesus, ela interroga-se: Como será isso possível? O Anjo responde que a Deus nada é impossível. …
"Então Maria (mesmo continuando sem compreender plenamente a missão que lhe é confiada) dá o salto da fé e disponibiliza-se para ser a Escrava do Senhor. Maria torna-se, assim, um modelo para todos os cristãos. Como ela, também todos se deverão interrogar, refletir e pôr mesmo em questão as suas crenças. Só assim poderão desenvolver uma fé mais consciente e consistente.”
________________

O autor começa por um apelo à racionalidade para a certa altura quanto tudo deixa de fazer qualquer sentido (a gravidez por obra e graça do Espírito Santo) devemos dar o salto de fé para aceitarmos como muito razoável, sem prejuízo da razão, a… mais absoluta irracionalidade. Por fim aconselha "Como ela [a virgem Maria], também todos se deverão interrogar, refletir e pôr mesmo em questão as suas crenças." E faz bem, mas põe em perigo a aceitação do absurdo!
Claro que respeito a religião e a religiosidade e seria a última coisa a passar-me pela cabeça discutir a racionalidade do irracional questionando o absurdo dos dogmas, pois eles são dogmas exatamente por serem absurdos. E sabemos que fins serve a alienação da mente humana.
Mas o ponto a que queria chegar não era o de pôr em dúvida a virgindade da menina tornada mãe por obra e graça do Espírito Santo e elevada a Santíssima Mãe de Deus. Isso eu dou de barato. O meu ponto é o qualificativo de “imaculada” , é a designação de mulher “sem mácula”, que vem a ser a condenação divina da mulher, por ser mulher, da mulher por ser mãe, a condenação absurda da faculdade mais essencial para a existência da humanidade. É a condenação do ato sexual, do ato que dá a vida, do ato fonte de prazer e essencial, para lá da maternidade, à saúde física e frequentemente mental dos homens e das mulheres.
Por fim e não menos relevante, do acto sexual de homem e mulher o pecado fica só para ela.

Nisto a Igreja Católica tem grandes afinidades com o Islão.