2011/12/20

Debate sobre a luta armada no período marcelista

Amanhã, 4ª feira, 21 de Dezembro, às 18 h, na exposição do ALjube (ao lado da Sé de Lisboa) Fernando Pereira Marques, Carlos Antunes e Raimundo Narciso vão falar da luta armada para derrubar o regime que marcou os últimos anos do fascismo. ______________
1º Comunicado da ARA emitido por ocasião da sua 1ª acção armada em Outubro de 1970:

O Diário de Notícias, de 25 de Abril de 1999, publicou o artigo, abaixo reproduzido, de António Valdemar:
O último julgamento do tribunal plenário

"Na manhã do próprio 25 de Abril [de 1974], antes da consolidação do MFA, decorria, na Boa Hora, mais uma sessão do julgamento do caso da ARA (Acção Revolucionária Armada), organização afecta ao Partido Comunista. Foi o último processo a ser julgado naquele tribunal de execrável memória. Presidia o desembargador Fernando Morgado Florindo. Na sequência da ligação directa do Plenário com a PIDE, Morgado Florindo exarou um despacho, até agora inédito e que reproduzimos na íntegra:

"Tendo a Direcção-Geral de Segurança comunicado telefonicamente a impossibilidade de assegurar a condução dos réus a este tribunal, devido ao Movimento das Forças Armadas, adiou "sine-die" o julgamento. "
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Presos em Janeir/Fevereiro de 1973 aguardavam julgamento
Carlos Coutinho, (31 anos) arquivista no jornal O Século.
Manuel Policarpo Guerreiro, (31anos) operário, pintor da construção civil.
Manuel Guerreiro, (31 anos) motorista, de Grândola.
Amado Ventura da Silva (29 anos) engenheiro agrónomo.
Mário Wren Abrantes da Silva, (24 anos) estudante de Agronomia.
Ramiro Morgado (34) anos, operário, lapidador de diamantes, de Moscavide.

Estes operacionais da ARA foram presos em Janeiro/Fevereiro de 1973, na sequência da prisão de um funcionário do PCP, que passou a colaborar com a PIDE e que denunciou contactos antigos com alguns destes membros da ARA quando faziam parte de organizações que ele controlou.
A ARA foi uma organização criada pelo PCP para a luta armada contra o regime fascista e em especial contra as guerras coloniais de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

A preparação das acções armadas teve início ainda em 1964 mas sucessivas vagas de prisões, desencadeadas pela PIDE/DGS contra o PCP, atrasaram e interromperam o processo do seu levantamento. Activa entre 1970 e 73, realizou acções armadas com grande impacto político.
A ARA era uma organização pequena, com regras de secretismo muito severas, que repudiava o terrorismo planeando as acções de modo a evitar atingir pessoas, mesmo acidentalmente.

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Acçãos armadas realizadas pela ARA


26-11-1970 – Sabotagem do navio Cunene, o mais moderno cargueiro português, dedicado à logística das guerras coloniais, na doca de Alcântara, no porto de Lisboa.

21-11-1970 – Destruição de material de guerra, que devia seguir para a guerra em Angola, no porto de Lisboa, junto ao navio Niassa.

21-11-1970 – Explosão na Escola Técnica da PIDE, em Sete Rios, Lisboa. Às 4h da madrugada

21-11-1970 – Explosão, no Centro Cultural Americano, em Lisboa, às 4 h da madrugada.

08-03-1971 – Destruição total ou parcial de 12 aviões e 16 helicópteros na Base Aérea Nº 3.

03-06-1971 – Sabotagem da Central de telecomunicações de Lisboa, no dia da reunião ministerial da NATO deixando o país isolado quanto a telecomunicações.

03-06-1971 – Derrube de 3 torres de alta tensão, em Sacavém, que provocaram o corte de energia eléctrica na região de Lisboa, no dia da reunião ministerial da NATO.

03-06-1971 – Derrube de 2 torres da rede eléctrica de alta tensão, em Belas, com o mesmo objetivo.

02-10-1971 – Assalto a um paiol, na zona de Loures e "confisco" de 500 kg de explosivos.

27-10-1971 – Explosão no Quartel General da NATO, em Oeiras, três dias antes da inauguração internacional.

12-01-1972 – Destruição de material de guerra, nos armazéns do cais de Alcântara, no porto de Lisboa, antes do seu embarque, no navio Muxima, para as guerras coloniais.

12-01-1972 – Sabotagem de 8 torres da rede eléctrica de alta tensão na região de Lisboa.

12-01-1972 – Sabotagem de 4 torres de alta tensão na região de Coimbra .

12-01-1972 – Sabotagem de 8 torres de alta tensão na região do Porto. Estas sabotagens provocaram o corte de energia elétrica no país, durante o dia das pseudo - eleições do Presidente da República, almirante Américo Tomaz.

A Morte saiu à rua num dia assim



José Dias Coelho, escultor, e militante clandestino do PCP, tinha 38 anos, quando foi assassinado a tiro, pela PIDE, fez hoje 50 anos, numa rua da zona do Calvário, em Lisboa e que hoje leva o seu nome.
O local fica muito próximo da Rua da Indústria, onde aluguei um quarto que foi, durante dois meses, a minha primeira residência na clandestinidade.

“Eram oito horas da noite, de 19 de Dezembro de 1961. José Dias Coelho, funcionário clandestino do PCP, seguia pela Rua dos Lusíadas. Cinco agentes da PIDE saltaram de um automóvel, perseguiram-no, cercaram-no e dispararam dois tiros. Um tiro à queima-roupa, em pleno peito, deitou-o por terra; o outro foi disparado com ele já no chão. Os assassinos meteram-no num carro e partiram a toda a velocidade. Só duas horas depois, quando estava a expirar, o entregaram no Hospital da CUF. «De todas as sementes deitadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas»: eis a legenda que José Dias Coelho dera à sua última gravura, criada um mês antes de ser assassinado, e representando o assassínio do operário Cândido Martins Capilé à frente de uma manifestação popular”.

Dias Coelho era companheiro da Margarida Tengarinha, e é o pai da Teresa e da Guida que conheci ainda umas jovenzinhas e que, sei, não desmerecem da vida exemplar desse homem bom, corajoso e herói do povo português.