2011/12/30

50º aniversário da revolta armada de Beja (1)

Na madrugada de 1 de Janeiro de 1962 um grupo de revolucionários tomou de assalto o quartel de Beja, ponto de partida de um plano para o derrubamento do regime fascista de salazar. Mas a acçao teve antecedentes e deles fala José Hipólito dos Santos que em Janeiro de 2012, editará um livro sobre tais acontecimentos:
«Primeira tentativa para assaltar o quartel de Beja, em 2 de Dezembro de 1961.

«Neste mês de Dezembro comemoram-se os 50 anos da tentativa revolucionária, vulgarmente conhecida por Golpe de Beja e que se concretizou em 1 de Janeiro de 1962. Foi precedida de duas tentativas que se realizaram em 2 de Dezembro e outra em 9.
Antes, Manuel Serra entrara clandestinamente em Portugal em fins de Outubro de 1961. Queria pôr em acção o Projecto Ikaro que elaborara em S. Paulo com o general Humberto Delgado. Depois de contactos diversos no Norte do País e com o grupo de Varela Gomes, que não se mostraram confiantes na possibilidade de uma acção militar tal como lhe estava sendo proposta, Manuel Serra decidiu assaltar o quartel de Beja. Tinha a vantagem de estar localizado fora da zona urbana, o que facilitava a aproximação para uma acção de surpresa, além de se situar numa região onde se pensava ser fácil conseguir um grande apoio popular.
Programou o assalto ao quartel num dos dois seguintes fins-de-semana alargados por serem feriados as sextas-feiras (1 e 8 de Dezembro). Era previsível que as guarnições militares, em geral, estivessem muito desfalcados dos seus comandos e que o mesmo se passaria com as restantes forças policiais.
Foi assim que, dispondo de uma trintena de pessoas, resolveu avançar para Beja, prevenindo Humberto Delgado, em Marrocos, através de um telegrama cifrado que lhe enviou, em 28 de Novembro, o que significaria que a acção seria desencadeada no dia 2 de Dezembro.
Efectivamente, nesse dia pela tarde, começaram a partir carros para Beja para fazer um percurso que, naquela época, exigia 4 horas e meia sem paragens. Deviam concentrar-se num pequeno bosque a dois km do quartel, após o que seguiriam a pé, em fila indiana, dos dois lados da estrada até á proximidade do muro que envolvia o quartel .
O plano consistia em cortar, num dado ponto, o arame farpado que rodeava uma parte do quartel, avançar, a coberto da escuridão, para a “Casa da Guarda”, e tomá-la de surpresa. Com as armas ali obtidas assaltariam o edifício de comando e prenderiam os oficiais presentes que não aderissem à acção revolucionária. Depois esperavam mobilizar uma parte dos soldados ali alojados e sair para assaltar a esquadra da polícia e o quartel da GNR, com pequenos “comandos” de civis e militares aderentes.
Mas, Manuel Serra ainda que tivesse comunicado a Humberto Delgado que iria pôr em execução o projecto Ikaro, manteve-se atento à situação, tudo foi posto em marcha, verificaram que era possível achegar-se ao quartel sem problemas, ainda que este tivesse uma considerável extensão de perímetro, mas entendeu que era melhor esperar as promessas de mais homens para passar ao ataque. Mandou retroceder a sua força de ataque que se concentrara num local a cerca de 1 km do quartel e o acompanhara até às imediações do quartel. Sem entusiasmo, mas confiantes de voltar em maior número, regressaram às suas casas.
Esse primeiro grupo de pessoas era constituído essencialmente por amigos do Manuel Serra, do Bairro da Liberdade e do Bairro da Serafina, mas também por amigos da Lígia Monteiro (Gualter Basílio, António da Graça Miranda e Raul Zagalo G. Coelho) e um pequeno grupo de católicos monárquicos.
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[1] Naquela época a circulação automóvel era muito reduzida, sobretudo à noite…

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