2011/12/30

Homenagem aos participantes no assalto ao quartel de Beja

O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória – NAM, vai comemorar o 50º aniversário do assalto ao quartel de Beja, uma acção revolucionária, inserida num plano para o derrubamento do regime fascista, ocorrida em 1 de Janeiro de 1962.

Realizar-se-á uma sessão aberta ao público, na Biblioteca Museu da República e da Resistência, na Rua Alberto de Sousa, nº 10 A - Zona B, do Rêgo, com início às 15h horas, do dia 14 de Janeiro de 2012. Serão oradores a historiadora Irene Pimentel, o historiador António Louçã, e o coronel Carlos Matos Gomes e contamos com a presença de participantes naquela acção.

O NAM pretende, assim, homenagear todos os heróicos protagonistas desta acção revolucionária que consideramos um marco histórico na luta contra a ditadura do Estado Novo e manter viva a sua memória.

2011-12-28

A direcção do NAM

Beja 1962 - Evocação de uma Efeméride


 
"Os subscritores, participantes sobrevivos da Revolta Armada de Beja - cujo quinquagésimo aniversário ocorre no próximo 1º Janeiro – pretendem, através da divulgação pública desta evocação, contribuir para resgatar a “memória apagada” dessa efeméride, remetida como está para o limbo dos acontecimentos avulsos, insignificativos; situação, aliás, em consonância com muitas outras relativas à memória da resistência antifascista; e em contraste flagrante com o desvelo comemorativo dedicado ao chamado Estado Novo, seus personagens e afins.

Na realidade, o combate e a resistência contra a ditadura e o fascismo em Portugal, constituíram um processo histórico contínuo ao longo de metade do séc. XX. Nesse processo insere-se a Revolta de Beja...porque aconteceu e ficou selada em sangue e morte. A sua importância e significado são-lhe conferidos pelo fluxo histórico no seu todo. Não foi um episódio isolado, fora do contexto da luta comum do povo português pela libertação de um regime ditatorial.

Com efeito, no caso da Revolta de Beja, é fácil estabelecer a sua ligação orgânica com o grandioso movimento de massas/levantamento popular provocado pelas eleições presidenciais em 1958; vindo a ser, exactamente, o general Humberto Delgado o impulsionador da Revolta de Beja e, como tal, figurando em 1º lugar na lista dos 87 incriminados pronunciados para julgamento no Tribunal Plenário Fascista.

Na sequência imediata da Revolta de Beja, eclodiu em Março desse mesmo ano de 1962, a revolta estudantil de maiores proporções contra o regime; o 1ºde Maio desse ano foi assinalado pelos trabalhadores e outros sectores da população com a maior força e amplitude de sempre. E o processo histórico continuou, já com a guerra colonial, por mais 12 anos, até 1974.

Tem sido prática corrente, após o derrubamento do fascismo até aos dias de hoje, minimizar a importância e o significado da Revolta de Beja. Obras antigas e recentes, de pretensa intenção histórico/cronológica, nem sequer anotam o acontecido. Mas bastaria ter consultado a imprensa da época para ver em grandes parangonas a dimensão do impacto e do sobressalto que provocou no País e além-fronteiras. O ditador tão emocionado ficou (citando) “com os acontecimentos das últimas semanas” que perdeu a voz e alguém teve de ler-lhe o discurso na sessão da Assembleia Nacional de 3 Janeiro; e cancelada teve de ser a costumada manifestação de desagravo.

Mas não serão certamente, a contrafacção histórica ou a posição negacionista, até hoje dominante, que conseguirão alterar o significado patriótico/cívico/ético da Acção Revolucionária de Beja; que conseguirão apagar no registo da história o facto de “ter acontecido”; que abalarão as convicções e o orgulho, mantido sempre enquanto houve/houver alento pelos revoltosos de Beja, por terem dado corpo e presença e não terem recuado na hora de confirmação.

A 50 anos de distância temporal, neste ensejo evocativo os abaixo-assinados sentem-se felizes por poderem afirmar que a Revolta Armada de Beja insere-se, com honra, no processo histórico de luta e resistência do Povo Português contra a ditadura e o fascismo.

Simultaneamente, manifestam óbvia solidariedade, respeito e admiração, para com todas as outras “memórias apagadas”, por idênticos e obscuros propósitos de desvalorização do historial da resistência antifascista portuguesa.

Resta portanto, aos resistentes sobreviventes da Revolta de Beja saírem em defesa da causa pela qual empenharam as suas vidas, que continua a ser a Causa da Liberdade pela Justiça Social, a qual, neste século XXI, corresponde a ser a Causa contra o retrocesso civilizacional, contra o neoliberalismo que retira todos os recursos da economia real para entregá-los ao capital financeiro, avassalando o mundo e ameaçando o destino das gerações vindouras.

Assim foi aqui feito,
Evocando o Cinquentenário da Revolta Armada de Beja.
Em Lisboa, na última semana do ano 2011

ass)

Airolde Casal Simões, Alexandre Hipólito dos Santos, Alfredo da Conceição Guaparrão Santos,
António da Graça Miranda, António Pombo Miguel, António Ricardo Barbado, António Vieira Franco, Artur dos Santos Tavares, Edmundo Pedro, Eugénio Filipe de Oliveira, Fernando Rôxo da Gama, Francisco Brissos de Carvalho, Francisco Leonel Rodrigues, Francisco Lobo, João Varela Gomes, José Galo, José Hipólito dos Santos, Manuel da Costa, Manuel Joaquim Peralta Bação, Raul Zagalo, Venceslau Luís Lopes de Almeida, Victor Manuel Quintão Caldeira, Victor Zacarias da Piedade de Sousa.
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Nota: a fotografia não faz parte da "Evocação".

50º aniversário da revolta armada de Beja (2)

Na sequência do post anterior sobre o assalto ao quartel de Beja, em 1 de janeiro de 1962, aqui fica agora novo relato, de José Hipólito dos Santos:

Segunda tentativa de assalto, em 9 de Dezembro de 1961

A primeira tentativa, em 2.12.1961, permitiu confirmar que era possível atacar de surpresa e assaltar o quartel de Beja, verificar as condições indispensáveis para a deslocação de dezenas de pessoas e a melhor forma de estacionamento discreto nas proximidades do quartel.
O empreendimento era viável mas necessitava de mais gente.
Por indicação de Lígia Monteiro, foi organizado um encontro com Piteira Santos, que envolveu ainda Edmundo Pedro e Eduardo Pereira, com a sua pronta adesão ao projecto Ikaro, a disponibilização de um alojamento em Lisboa para Manuel Serra, assim como algumas armas e explosivos e a provável adesão de bastantes pessoas a que estavam ligados.
Por outro lado, Manuel Serra encontrou-se no Pinhal Novo com um seu amigo, José Artur Cardoso, empregado da CP na estação local, que logo se lhe juntou e organizou uma reunião com um pequeno grupo de elementos do PCP do Barreiro. E, sem hesitações, não só aderiram ao projecto de assalto a um quartel como prometeram a adesão de novos elementos.

O grupo de Piteira Santos e o grupo de Almada

Piteira Santos jogava um papel importante nas movimentações legais e clandestinas da oposição. Preso em 1945, foi expulso do PCP em 1950 (com Ramos da Costa e Mário Soares), manteve-se sempre muito dinâmico, nomeadamente estabelecendo pontes nas difíceis relações entre a oposição democrática e o PCP. Seguia com atenção as transformações na “União Soviética” e juntava à sua volta pessoas como Edmundo Pedro, Gilberto de Oliveira, Adolfo Ayala, e, mais tarde, Eduardo Pereira e Alípio Rocha, gente que se afastara do PCP, ou ainda seus militantes, mas em desacordo com a linha “pacifista”. O caso de Joaquim Eduardo Pereira era o mais representativo.
Militante desde 1943, participou no V Congresso do PCP, clandestino, em S. João do Estoril, em 1957, tornou-se funcionário com responsabilidades na reorganização do estratégico sector da Margem Sul, na corda Almada/Seixal, como na zona Barreiro/Montijo, situação que abandonou bem depois das eleições de Delgado.
Posto ao corrente do projecto da acção revolucionária a partir de Beja, não só aderiu como iniciou uma intensa actividade na zona de Almada para aliciar companheiros. Em dois ou três dias, cerca de duas dezenas de elementos aderiram e prontificaram-se a partir para a segunda tentativa de assalto ao quartel. Eram, na sua maioria, operários qualificados do tecido industrial da zona Seixal/Almada, quase todos jovens e casados, mas também outros menos jovens.

O grupo do Barreiro, do PCP

Com o apoio de prestigiados membros do PCP do Barreiro, foi organizado um encontro no Montijo em que participaram novos elementos como Francisco Leonel Lobo e Artur Tavares, além de Manuel Serra e seus companheiros, Eduardo Pereira e Edmundo Pedro. Também eles aderiram de imediato, gizando mesmo um esboço de plano de acção complementar a levar a cabo no Barreiro - poderiam levar a Beja cerca de duas dezenas de companheiros do Barreiro, a maior parte viria com armas tiradas do quartel, para as distribuir por grupos organizados afim de, ainda nessa madrugada, atacarem de surpresa o quartel da companhia da GNR do Barreiro e os postos da mesma na CUF.

Preparação e execução

A semana depois da primeira tentativa de assalto ao quartel de Beja decorrera relativamente bem. Podia-se contar, além dos vinte e nove participantes na tentativa de 2 de Dezembro, com uma vintena de pessoas do grupo de Almada e outra vintena do Barreiro. Este último grupo trazia ainda um alargamento importante (ataque do quartel da GNR do Barreiro) da própria acção revolucionária.
O contacto com os militares que se fizera infrutiferamente antes da primeira tentativa continuava bloqueado dado o cepticismo persistente de Varela Gomes.
O plano de acção para a nova tentativa mantinha-se fundamentalmente o mesmo: concentração da totalidade dos efectivos na proximidade do quartel, aproximação, entrada de surpresa saltando um muro lateral e tomada da casa da guarda; seguir-se-ia a distribuição das armas e fardamentos, explicação da acção aos militares presentes no quartel, pedindo a sua adesão, considerada como muito provável.
Edmundo Pedro e David Abreu deviam, depois, ficar em Beja e assegurar o controlo da cidade e do Quartel.
Utilizando carros e camionetas do quartel, partiriam duas colunas para o Sul do país, tentando chegar rapidamente ao Algarve, para ocupar Faro e outras cidades. Pelo caminho, postos da GNR seriam atacados de surpresa.
Para impedir uma resposta rápida do regime, duas pontes seriam destruídas: a de Alcácer do Sal, importantíssima na época para assegurar a ligação Norte/Sul do país e a ponte da Vidigueira, entre Beja e Évora, para impedir a aproximação de tropas vindas de Évora ou Estremoz.
Entretanto, no Barreiro, depois da chegada de camiões com armas, já portanto depois da tomada do quartel de Beja, elementos revolucionários previamente avisados e concentrados procederiam ao assalto do poderoso quartel da GNR, a partir das traseiras onde não havia sentinelas, mas com janelas por onde seriam lançadas granadas, e as sirenes das fábricas chamariam a população para dar continuidade à acção revolucionária.

Pouco depois da meia-noite de sábado, 9 de Dezembro, sob o comando de Manuel Serra, os revolucionários encontraram-se no local combinado em Beja. Contudo, enquanto se esperava pela chegada de mais elementos comprometidos, nomeadamente o grupo do Barreiro, tornou-se evidente que a acção não era exequível naquela noite de lua cheia, sem nuvens. A aproximação ao quartel tornava-se perigosa, não era possível atacar de surpresa, condição fundamental. Foi consensual que era necessário adiar novamente o assalto ao quartel.
Mas também não foi possível juntar os cinquenta elementos que Manuel Serra considerava o mínimo indispensável para prosseguir a acção revolucionária com sucesso.
Avarias de carros, desencontros no local de partida, hesitações, descoordenação tinham reduzido substancialmente o efectivo que se posicionou para o início das operações. Do Barreiro chegaram sete elementos a Beja, mas tendo chegado atrasado ao ponto de encontro não se pôde juntar ao grupo de Manuel Serra que acabara por suspender o assalto; frustrados, e sem saber o que se passara, regressaram ao Barreiro depois de avisar os companheiros que esperava em Alcácer do Sal o sinal e os explosivos para dinamitar a ponte.
Contudo, Manuel Serra, ao fazer o balanço da situação, mostrou-se contente e confiante de que era possível pôr em execução a Operação Ikaro e apanhar toda a gente de surpresa.
As semanas seguintes vão passar-se a consolidar a organização e a tentar envolver os militares para além da simples promessa de apoio no caso de conseguirem dominar o quartel de Beja.

50º aniversário da revolta armada de Beja (1)

Na madrugada de 1 de Janeiro de 1962 um grupo de revolucionários tomou de assalto o quartel de Beja, ponto de partida de um plano para o derrubamento do regime fascista de salazar. Mas a acçao teve antecedentes e deles fala José Hipólito dos Santos que em Janeiro de 2012, editará um livro sobre tais acontecimentos:
«Primeira tentativa para assaltar o quartel de Beja, em 2 de Dezembro de 1961.

«Neste mês de Dezembro comemoram-se os 50 anos da tentativa revolucionária, vulgarmente conhecida por Golpe de Beja e que se concretizou em 1 de Janeiro de 1962. Foi precedida de duas tentativas que se realizaram em 2 de Dezembro e outra em 9.
Antes, Manuel Serra entrara clandestinamente em Portugal em fins de Outubro de 1961. Queria pôr em acção o Projecto Ikaro que elaborara em S. Paulo com o general Humberto Delgado. Depois de contactos diversos no Norte do País e com o grupo de Varela Gomes, que não se mostraram confiantes na possibilidade de uma acção militar tal como lhe estava sendo proposta, Manuel Serra decidiu assaltar o quartel de Beja. Tinha a vantagem de estar localizado fora da zona urbana, o que facilitava a aproximação para uma acção de surpresa, além de se situar numa região onde se pensava ser fácil conseguir um grande apoio popular.
Programou o assalto ao quartel num dos dois seguintes fins-de-semana alargados por serem feriados as sextas-feiras (1 e 8 de Dezembro). Era previsível que as guarnições militares, em geral, estivessem muito desfalcados dos seus comandos e que o mesmo se passaria com as restantes forças policiais.
Foi assim que, dispondo de uma trintena de pessoas, resolveu avançar para Beja, prevenindo Humberto Delgado, em Marrocos, através de um telegrama cifrado que lhe enviou, em 28 de Novembro, o que significaria que a acção seria desencadeada no dia 2 de Dezembro.
Efectivamente, nesse dia pela tarde, começaram a partir carros para Beja para fazer um percurso que, naquela época, exigia 4 horas e meia sem paragens. Deviam concentrar-se num pequeno bosque a dois km do quartel, após o que seguiriam a pé, em fila indiana, dos dois lados da estrada até á proximidade do muro que envolvia o quartel .
O plano consistia em cortar, num dado ponto, o arame farpado que rodeava uma parte do quartel, avançar, a coberto da escuridão, para a “Casa da Guarda”, e tomá-la de surpresa. Com as armas ali obtidas assaltariam o edifício de comando e prenderiam os oficiais presentes que não aderissem à acção revolucionária. Depois esperavam mobilizar uma parte dos soldados ali alojados e sair para assaltar a esquadra da polícia e o quartel da GNR, com pequenos “comandos” de civis e militares aderentes.
Mas, Manuel Serra ainda que tivesse comunicado a Humberto Delgado que iria pôr em execução o projecto Ikaro, manteve-se atento à situação, tudo foi posto em marcha, verificaram que era possível achegar-se ao quartel sem problemas, ainda que este tivesse uma considerável extensão de perímetro, mas entendeu que era melhor esperar as promessas de mais homens para passar ao ataque. Mandou retroceder a sua força de ataque que se concentrara num local a cerca de 1 km do quartel e o acompanhara até às imediações do quartel. Sem entusiasmo, mas confiantes de voltar em maior número, regressaram às suas casas.
Esse primeiro grupo de pessoas era constituído essencialmente por amigos do Manuel Serra, do Bairro da Liberdade e do Bairro da Serafina, mas também por amigos da Lígia Monteiro (Gualter Basílio, António da Graça Miranda e Raul Zagalo G. Coelho) e um pequeno grupo de católicos monárquicos.
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[1] Naquela época a circulação automóvel era muito reduzida, sobretudo à noite…

2011/12/20

Debate sobre a luta armada no período marcelista

Amanhã, 4ª feira, 21 de Dezembro, às 18 h, na exposição do ALjube (ao lado da Sé de Lisboa) Fernando Pereira Marques, Carlos Antunes e Raimundo Narciso vão falar da luta armada para derrubar o regime que marcou os últimos anos do fascismo. ______________
1º Comunicado da ARA emitido por ocasião da sua 1ª acção armada em Outubro de 1970:

O Diário de Notícias, de 25 de Abril de 1999, publicou o artigo, abaixo reproduzido, de António Valdemar:
O último julgamento do tribunal plenário

"Na manhã do próprio 25 de Abril [de 1974], antes da consolidação do MFA, decorria, na Boa Hora, mais uma sessão do julgamento do caso da ARA (Acção Revolucionária Armada), organização afecta ao Partido Comunista. Foi o último processo a ser julgado naquele tribunal de execrável memória. Presidia o desembargador Fernando Morgado Florindo. Na sequência da ligação directa do Plenário com a PIDE, Morgado Florindo exarou um despacho, até agora inédito e que reproduzimos na íntegra:

"Tendo a Direcção-Geral de Segurança comunicado telefonicamente a impossibilidade de assegurar a condução dos réus a este tribunal, devido ao Movimento das Forças Armadas, adiou "sine-die" o julgamento. "
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Presos em Janeir/Fevereiro de 1973 aguardavam julgamento
Carlos Coutinho, (31 anos) arquivista no jornal O Século.
Manuel Policarpo Guerreiro, (31anos) operário, pintor da construção civil.
Manuel Guerreiro, (31 anos) motorista, de Grândola.
Amado Ventura da Silva (29 anos) engenheiro agrónomo.
Mário Wren Abrantes da Silva, (24 anos) estudante de Agronomia.
Ramiro Morgado (34) anos, operário, lapidador de diamantes, de Moscavide.

Estes operacionais da ARA foram presos em Janeiro/Fevereiro de 1973, na sequência da prisão de um funcionário do PCP, que passou a colaborar com a PIDE e que denunciou contactos antigos com alguns destes membros da ARA quando faziam parte de organizações que ele controlou.
A ARA foi uma organização criada pelo PCP para a luta armada contra o regime fascista e em especial contra as guerras coloniais de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

A preparação das acções armadas teve início ainda em 1964 mas sucessivas vagas de prisões, desencadeadas pela PIDE/DGS contra o PCP, atrasaram e interromperam o processo do seu levantamento. Activa entre 1970 e 73, realizou acções armadas com grande impacto político.
A ARA era uma organização pequena, com regras de secretismo muito severas, que repudiava o terrorismo planeando as acções de modo a evitar atingir pessoas, mesmo acidentalmente.

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Acçãos armadas realizadas pela ARA


26-11-1970 – Sabotagem do navio Cunene, o mais moderno cargueiro português, dedicado à logística das guerras coloniais, na doca de Alcântara, no porto de Lisboa.

21-11-1970 – Destruição de material de guerra, que devia seguir para a guerra em Angola, no porto de Lisboa, junto ao navio Niassa.

21-11-1970 – Explosão na Escola Técnica da PIDE, em Sete Rios, Lisboa. Às 4h da madrugada

21-11-1970 – Explosão, no Centro Cultural Americano, em Lisboa, às 4 h da madrugada.

08-03-1971 – Destruição total ou parcial de 12 aviões e 16 helicópteros na Base Aérea Nº 3.

03-06-1971 – Sabotagem da Central de telecomunicações de Lisboa, no dia da reunião ministerial da NATO deixando o país isolado quanto a telecomunicações.

03-06-1971 – Derrube de 3 torres de alta tensão, em Sacavém, que provocaram o corte de energia eléctrica na região de Lisboa, no dia da reunião ministerial da NATO.

03-06-1971 – Derrube de 2 torres da rede eléctrica de alta tensão, em Belas, com o mesmo objetivo.

02-10-1971 – Assalto a um paiol, na zona de Loures e "confisco" de 500 kg de explosivos.

27-10-1971 – Explosão no Quartel General da NATO, em Oeiras, três dias antes da inauguração internacional.

12-01-1972 – Destruição de material de guerra, nos armazéns do cais de Alcântara, no porto de Lisboa, antes do seu embarque, no navio Muxima, para as guerras coloniais.

12-01-1972 – Sabotagem de 8 torres da rede eléctrica de alta tensão na região de Lisboa.

12-01-1972 – Sabotagem de 4 torres de alta tensão na região de Coimbra .

12-01-1972 – Sabotagem de 8 torres de alta tensão na região do Porto. Estas sabotagens provocaram o corte de energia elétrica no país, durante o dia das pseudo - eleições do Presidente da República, almirante Américo Tomaz.

A Morte saiu à rua num dia assim



José Dias Coelho, escultor, e militante clandestino do PCP, tinha 38 anos, quando foi assassinado a tiro, pela PIDE, fez hoje 50 anos, numa rua da zona do Calvário, em Lisboa e que hoje leva o seu nome.
O local fica muito próximo da Rua da Indústria, onde aluguei um quarto que foi, durante dois meses, a minha primeira residência na clandestinidade.

“Eram oito horas da noite, de 19 de Dezembro de 1961. José Dias Coelho, funcionário clandestino do PCP, seguia pela Rua dos Lusíadas. Cinco agentes da PIDE saltaram de um automóvel, perseguiram-no, cercaram-no e dispararam dois tiros. Um tiro à queima-roupa, em pleno peito, deitou-o por terra; o outro foi disparado com ele já no chão. Os assassinos meteram-no num carro e partiram a toda a velocidade. Só duas horas depois, quando estava a expirar, o entregaram no Hospital da CUF. «De todas as sementes deitadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas»: eis a legenda que José Dias Coelho dera à sua última gravura, criada um mês antes de ser assassinado, e representando o assassínio do operário Cândido Martins Capilé à frente de uma manifestação popular”.

Dias Coelho era companheiro da Margarida Tengarinha, e é o pai da Teresa e da Guida que conheci ainda umas jovenzinhas e que, sei, não desmerecem da vida exemplar desse homem bom, corajoso e herói do povo português.

2011/12/07

Honoris Causa em...Cabo Verde!





Comunicado
Movimento Cívico Não Apaguem a Memória – NAM
2011-12-07

Foi com espanto que tomámos conhecimento através da comunicação social de que “a Universidade do Mindelo, da República de Cabo Verde, outorga, este sábado, 10 de Dezembro, ao professor Adriano Moreira, o grau de Doutor Honoris Causa” Sem pôr em causa as qualidades de intelectual e de académico do professor Adriano Moreira e tendo presente a sua inserção, como político, no regime democrático, não podemos esquecer que foi Adriano Moreira, como ministro do Ultramar, do regime fascista, o responsável direto pela reabertura do campo de concentração do Tarrafal, na antiga colónia de Cabo-Verde, em 1961, através da portaria nº 18.539, por si assinada e publicada, no Diário do Governo, em 17 de Junho desse ano.

Esta homenagem de uma Universidade da República de Cabo Verde não pode deixar de ser considerada uma afronta aos patriotas de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de Angola que lutaram pela independência dos seus países e que sofreram inomináveis brutalidades, às ordens da PIDE, neste campo de concentração de má memória, onde já tinham sido condenados a morte lenta, tantos portugueses, antes de ter sido reaberto, naquela data, por Adriano Moreira.

A direcção do NAM

Sobre o Tarrafal uma reportagem sobre a participação do NAM no simpósio promovido pela Presidência da República de Cabo Verde, em 2009

Ou as intervenções aqui também no Memórias

2011/11/25

HOMENAGEM aos professores universitários e investigadores demitidos pela ditadura

O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória – NAM, participa na homenagem aos docentes universitários demitidos pelo regime fascista do Estado Novo (1933-1974) e convida todos os seus associados e amigos a estarem presentes e a participarem nesta homenagem que terá lugar
 
• no dia 29 de Novembro, às 18 horas, na reitoria da Universidade de Lisboa. Intervenções do reitor da UL, António Sampaio da Nóvoa, do historiador António Ventura e de Mário Soares em representaçao da comisão promotora.  

• no dia 30 de Novembro, às 17 horas, na reitoria da Universidade Técnica de Lisboa. Intervirão a reitora da UTL Helena Nunes Pereira, o historiador José Brandão de Brito e Raimundo Narciso, em nome da comisão promotora;
• no dia 30 de Novembro, às 17 horas, na reitoria da Universidade do Porto. Intervirão o reitor da UP, José Marques dos Santos, o historiador Manuel Loff e João Pulido Valente, em representação da comisão promotora.
• no dia 19 de Dezembro, às 12 horas, na reitoria da Universidade de Coimbra. Intervirão o reitor João Gabriel Silva, o historiador Luís Reis Torgal e Fernando Rosas, em nome da comisão promotora.

A homenagem consistirá no descerramento de uma placa com os nomes de todos os docentes expulsos em cada uma daquelas universidades, na realização de uma sessão solene de homenagem com a participação dos Reitores e oradores convidados e na edição de uma brochura que contextualiza historicamente os acontecimentos e contém as biografias de todos os professores e investigadores demitidos. A comissão organizadora da homenagem é constituída pela
Fundação Pulido Valente, com a participação de João Monjardino;
Movimento Cívico Não Apaguem a Memória, com a participação de Raimundo Narciso, de Isabel do Carmo e de Jaime Mendes;
Fundação Mário Soares, com a participação de Alfredo Caldeira.
Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, com a participação de Fernando Rosas.
  
Imagem da placa que será descerrada na homenagem, nas reitorias da Universidade de Lisboa, da Universidade Técnica de Lisboa, da Universidade de Coimbra e da Universidade do Porto)
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2011/07/24

Triunfou o direito à Memória

(Imagem a partir de foto de Miguel Manso)
(José Manuel Castanheira, Margarida Fonseca Santos, Carlos Fragateiro)

“Se calhar, ainda bem que tudo isto aconteceu”, disse Margarida Fonseca Santos à saída do tribunal, explicando que esta foi “uma forma de falar aos mais novos “de uma época em que não havia liberdade”, de “mobilizar as pessoas” e de “trazer a história do país para o teatro”.

O mesmo entendimento foi manifestado por Fragateiro. Ao levantar a questão, os sobrinhos de Santos Pais acabaram por “fazer um favor à democracia”, considera.

“A crítica pública deve ser um direito e não um risco”, frisou o magistrado [juiz António Passos Leite] na sentença que foi lida, esta tarde (2011-07-22), no tribunal criminal de Lisboa.

Julgado ao longo de 14 audiências desde o passado dia 3 de Maio, o caso opôs os sobrinhos do ex-director da PIDE/DGS, Silva Pais, aos responsáveis pela peça de teatro “A Filha Rebelde” que esteve em cena no Teatro Nacional D. Maria II em 2007: a autora do argumento, Margarida Fonseca Santos e dois dos administradores do Teatro Nacional, Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira, acusados de difamação e ofensa à memória de Silva Pais.
A peça é a adaptação ao teatro do livro “A Filha Rebelde” (editora Temas e Debates) da autoria de José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz. A família do ex-director da PIDE considerou que algumas das falas da peça eram ofensivas ao nome e memória de Silva Pais, nomeadamente por lhe ser atribuído o homicidio de Humberto Delgado e decidiu processar os seus responsáveis.
A notícia da absolvição foi recebida na sala de audiências com salvas de palmas, gritos de “abaixo a PIDE” e cravos vermelhos distribuídos aos presentes.
O juiz sublinhou o “direito à manifestação artística” e “à história” e referiu-se à doutrina sobre os direitos do Homem sublinhando a importância da liberdade de expressão como “uma das condições das sociedades democráticas”.
” que marcou a “reconciliação com a memória” do seu avô,
...
A peça de teatro, “A Filha Rebelde" conta a história da filha de Silva Pais, Annie Silva Pais, casada com um diplomata suíço com quem foi viver para Havana, Cuba, no início da Revolução. Apaixonada por Che Guevara, Annie acabou por deixar o marido e aderir à causa cubana.

O Ministério Público decidiu não acompanhar a acusação atendendo a que não se tratava de um crime público e na fase das alegações finais do julgamento, o procurador Abel Matos Rosa pediu a absolvição dos arguidos, tal como os advogados de defesa, Lucas Serra e Victor Ferreira.

Obrigado a todos os que, neste processo defenderam o direito à memória, à verdade histórica, à liberdade e ajudaram a enterrar o espectro da Pide que parece estar mal enterrada.

Link, link

2011/07/13

"Já uma estrela se levanta"

Abri, desprevenido a televisão. Um susto. Sacralizados, uivando, em alcateia, sobre mim... "os Mercados". Antes que chegassem os analistas, os padres da nova religião, fiz zaping para o livro da Helena Pato para confirmar se "Já uma estrela se levanta".
As estrelas não se levantam assim sem mais nem menos por isso fui lendo, lendo, lendo até ao fim. Porque o livro não é grande. Porque está muito bem escrito.
Uma escrita, límpida, ora fraterna ora combativa, ora ternura ora paixão, mas sempre exemplar na entrega à causa do bem geral a revelar-nos como essa é, afinal, a causa mais útil a nós próprios, quando nós próprios somos... como a Lena é.

A Lena leva-nos pela mão, numa linguagem cativante, ao Portugal que ela viveu, que nós, os da sua geração, vivemos, o Portugal “pré-histórico” do homem de Santa Comba Dão (salvo seja, como se dizia na minha aldeia, salvo seja toda a boa gente lá da terra). Leva-nos pelas largas avenidas da solidariedade e engrandece-nos. Mostra-nos as vielas sombrias da exploração e dos crimes da ditadura de Salazar e acorda em nós a revolta que nos ajude a vencer os monstros do mundo actual.
O livro da Lena revela o que há de bom, de forte e pletórico em cada um de nós e de como a conjugação de vontades liberta a força capaz de levar à vitória, em cada dia, à nossa volta ou mais além, a liberdade e a justiça, vencendo os que, escondidos atrás da cortina de ferro dos “mercados” vêm em cada homem uma mercadoria para o seu insaciável enriquecimento e poder.
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O livro já está à venda na livraria O Círculo das Letras e talvez já por aí. Dele fala aqui a Ana Paula Fitas numa escrita belíssima. E, é claro, é referido aqui

2011/05/18

Vamos Falar da nossa Juventude. As lutas académicas pela liberdade dos anos 50 e 60 e as de agora

A Helena Pato, membro da direção do MovimentoNão Apaguem a Memória - NAM teve a ideia e se bem a pensou logo a pôs em prática, em diálogo com o André Freire, professor do ISCTE, agora Instituto Superior de Lisboa, uma universidade com a personalidade jurídica de fundação. Descobriram o contexto e o momento: as Jornadas de Ciência Política do ISCTE - IUL. Reservaram então o 1º dia das Jornadas para o levantamento da Memória das grandiosas lutas pela liberdade dos anos 50 e 60, nos meios académicos.
Eles, eles os protagonistas, não todos mas ainda muitos deles estão aí e responderam pela afirmativa ao convite da Lena. Vão amanhã contar-nos como viveram os acontecimentos, o seu significado político e a garra, a determinação na luta, os sentimentos, as emoções, os medos e quem sabe... se contarão até os namoros, as paixões e os casamentos que o entusiasmo, as emoções, os arrebatamentos das lutas juvenis propiciavam. Eis o programa e o momento para conhecer e questionar. Para inspirar as lutas de hoje.

Jornadas de Ciência Política
ISCTE-IUL  Auditório B103 Edifício II
19 Maio de 2011
09:30 Sessão de aberturaISCTE-IUL: Luís Reto (Reitor), André Freire, José Manuel Leite Viegas, Fábio Ramalho
NAM: Raimundo Narciso
10:00
década de 50
MUD Juvenil e a repressão fascista
Carlos Veiga Pereira, Luísa Irene Dias Amado, José
Tengarrinha, Mário Ruivo
Moderador André Freire
Decreto-Lei 40900 : A Supressão da Liberdade Associativa EstudantilCarlos Portas, Herberto Goulart, Júlio Pequito, Prostes da FonsecaModerador Raimundo Narciso11:30 Coffee break
11:45 Debate aberto à assistência
Moderador Helena Pato
14:30 década de 60
Crise Académica de 62
Fernando Vicente, Isabel do Carmo, Medeiros FerreiraModerador Helena PatoDebate aberto à assistênciaCrise Académica de 69Domingos Lopes, José Barata, Manuela CruzeiroModerador Jaime MendesDebate aberto à assistência16:30 Coffee break16:45 Actualidade Os Movimentos Estudantis na ActualidadeNACP Bárbara Borrego e Joana MorgadoModerador Inês Trindade
Debate aberto à assistência com a participação especial deRicardo Bernardes Presidente da ESPECAlexandre de Sousa Carvalho Organizador da Manifestação Geração à rasca/M12M

2011/05/02

Querem branquear a PIDE

A direcção do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM) acaba de emitir o seguinte comunicado:

À Comunicação Social


A direcção do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória manifesta a sua profunda indignação perante o julgamento de Margarida Fonseca Santos, Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira. Não está apenas em causa a liberdade de expressão destes prestigiados intelectuais (e o precedente que este caso pode configurar), mas também o desrespeito pela memória de todos aqueles que, durante o fascismo, combateram por um regime democrático.

Na manhã de 3 de Maio de 2011, acusados por familiares do último director da PIDE/ DGS, vão estar, na barra do tribunal, cidadãos que se propõem preservar a memória da ditadura, e não Silva Pais, um dos maiores responsáveis pelo regime de terror em que se viveu até 1974. As atrocidades infligidas aos opositores, por inspectores e agentes sob a alçada de Silva Pais, enchem milhões de páginas no Arquivo da Torre do Tombo, jamais foram objecto de confrontação por parte desses seus autores, mas não são esquecidas pelas vítimas.

Há poucos dias, foi inaugurada uma exposição na antiga Cadeia do Aljube, em Lisboa: «A Voz das Vítimas». Impressiona pela dimensão que transmite dos crimes cometidos pela polícia política, ao longo de 48 anos. E vem lembrar-nos, de novo, que os autores desses crimes nunca foram julgados. Os obreiros da Democracia, nascida em Abril, não abdicaram de uma atitude de tolerância que se tem revelado enormemente injusta para com os milhares de portugueses que sofreram, até à morte, as consequências de torturas, de prisões, de perseguições, ou o exílio. Foram décadas vividas sob o terror da PIDE /DGS, com o comando de Silva Pais, seu Director.

O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória saúda os acusados neste processo, por se juntarem àqueles que deixam, para as gerações futuras, um legado de memórias desse tenebroso tempo de opressão. Estaremos, sempre, ao lado dos que impedem o branqueamento, quer de um regime que destruiu vidas e famílias, quer dos seus responsáveis máximos. E Silva Pais é um nome que não se apaga da nossa memória.

Em 2 de Maio de 2011

A Direcção do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória

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O julgamento ocorrerá às 9h 15m de 3 de Maio de 2011 no 2º Juizo Criminal, 3ª Secção, Av D. João II, n.º
10801 - Edifício B. Parque das Nações. Metro: Gare do Oriente.

2011/04/15

ALJUBE - 46 anos depois de fechar


Jaime Gama, presidente da AR, Mário Soares, em representação da FMS, António Costa, presidente da CML, Fernando Rosas do Instituto de História Contemporânea da UNL e Raimundo Narciso do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM) usaram da palavra, perante cerca de duzentos pessoas entre elas deputados e outras altas indidualidades do Estado ou da sociedade civil, como Vasco Lourenço em representação da A25A ou Corregedor da Fonseca pela URAP. Seguiu-se uma visita guiada à exposição.
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Extratos da intervenção do presidente da direcção do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM):
Em nome do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória quero agradecer a vossa presença e sublinhar quão ela revela a importância simbólica atribuída a esta exposição que exalta os valores da liberdade e da democracia e presta homenagem àqueles portugueses que, sem esperarem benefícios empenharam liberdade e por vezes a vida, na luta por elas.
...
Outro momento importante da curta vida do nosso Movimento é este, ao inaugurarmos uma exposição que presta homenagem aos muitos milhares de portugueses que,   ao longo da ditadura do Estado Novo,  tiveram de pagar um alto preço pela determinação e coragem   de lutar pela liberdade e por um Portugal melhor para todos os Portugueses. Essa luta pertinaz,   durante tantos anos, ajudou a abrir caminho para o levantamento militar dos gloriosos capitães de Abril, em 1974, aqui representados pela Associação 25 de Abril e o seu presidente coronel Vasco Lourenço.  A Liberdade e a democracia são conquistas consolidadas, mas uma sociedade mais igualitária e mais justa continua a ser um objectivo bem na ordem do dia.
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A intervenção completa do NAM encontra-se aqui e é referida no site da CML onde há mais fotografias e informação. Ver também o site da exposição ou o do NAM onde te podes inscrever como associado ou apoiante.
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Imagens da inauguração e da exposição:











2011/04/14

A Voz das Vítimas

É o nome da exposição que se inaugura hoje, às 18 h, na antiga prisão política do Aljube (ao lado da Sé de Lisboa). Entrada livre. Mais informações aqui  aqui, ou aqui.
A seguir um texto de RN sobre o Movimento Não Apaguem a Memória no catálogo da exposição: 220 páginas de fotografias, nomeadamente dos curros, do parlatório, fichas de presos e documentos do arquivo da PIDE, relatos de fugas e de... casamentos de presos,  na prisão. À venda na exposição que tem entrada livre:
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A exposição A Voz das Vítimas é um caso exemplar de evocação da memória da luta pela liberdade levada a cabo por muitos portugueses, de todas as condições e de diferentes credos políticos e religiosos, contra a ditadura do Estado Novo que vigorou de 1926 a 1974.
A ditadura, longa de várias gerações, tentou apagar da vida dos Portugueses e em parte conseguiu, a herança e a Memória das conquistas progressistas da Revolução Republicana iniciada em 5 de Outubro de 1910, conquistas vanguardistas na Europa de então. Tentou e em parte conseguiu apagar da memória colectiva a luta multifacetada, pelas formas assumidas e pelas ideologias presentes, que ao longo de toda a sua existência contra ela se ergueu.
.... Continua aqui: link

2011/03/03

Fernando Vicente torturado pela PIDE

Fernando Vicente é Engenheiro Civil, reformado, casado com a Bárbara, pai de duas filhas e avô. E foi dirigente do PCP muitos anos. Ainda fomos colegas no Instituto Superior Técnico mas pouco tempo depois de se formar, em 1972, foi preso pela PIDE, acusado de ser membro do PCP, então ilegal. Para que denunciasse os seus companheiros e a sua actividade foi submetido a torturas inomináveis. Não prestou declarações. Para o demover, a PIDE submeteu-o a torturas até ao limite da resistência humana, até à beira da morte. Até ao inacreditável. Fernando Vicente nunca supôs que pudesse suportar tanta tortura, que incluiu a estátua, durante tantos dias e noites sem o deixarem dormir. É necessário ouvi-lo e vê-lo, no video, para se ter uma ideia, mesmo remota, do que eram as torturas da polícia política de Salazar e Caetano, no Portugal que viveu 48 anos, sem interrupção, de ditadura fascista.
O vídeo que se segue foi retirado da SIC online, que disponibiliza o código para cópia, do programa Histórias com gente dentro, emitido no dia 1 de Março de 2011, às 21:40 h.
A parte do video relativa ao Fernando Vicente está entre os 20 e os 25 minutos. Como seria necessário autorização para extrair e republicar a parte que me interessava (no Youtube, p.ex.) coloquei aqui todo o programa, com cerca de 30 minutos. Mas quem queira ver apenas a entrevista do FV pode dar início ao vídeo e em seguida com o rato pode arrastar o cursor que aparece na parte de baixo do vídeo para o minuto 20.
O video também está disponível do site do NAM - Movimento Cívico Não Apaguem a Memória.
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2011/02/07

Homenagem a Nuno Teotónio Pereira

No passado Sábado, dia 5 de Fevereiro de 2011, mais de três centenas de amigos prestaram uma emocionada homenagem a Nuno Teotónio Pereira. Figura emblemática do movimento "Católicos Progressistas", exemplo de indefectivel combatente pela liberdade contra a ditadura do Estado Novo, cidadão de exemplar modéstia e atenção para com o seu semelhante, Nuno Teotónio Pereira, foi nesta homenagem evocado, também, como distinto arquitecto da cidade de Lisboa.
O Movimento Cívico Não Apaguem a  Memória , de que o homenageado é sócio fundador e sócio honorário, fez-se representar por uma delegação dos seus órgãos sociais composta por Eurico Reis, José Hipólito dos Santos, Lúcia Esaguy Simões, Helena Pato, Artur Pinto, Crisóstomo Teixeira, Irene Pimentel e o autor deste post.

“… Uma imensa plateia de mais de trezentas pessoas, não só de católicos e ex-católicos activistas desde os anos 60, mas também de muitos outros compagnons de route que, ao longo de mais de cinco décadas, se habituaram a ver na pessoa do Nuno o grande impulsionador de um sem número de actividades, políticas e cívicas, e que aderiram a uma iniciativa anunciada através da internet, sem envolvimento de organizações (juntaram-se depois e estiveram ontem presentes) e organizada por um pequeníssimo grupo de amigos.

"Ao lançarmos a sessão, - diz Joana Lopes - utilizámos a palavra «homenagem» na convocatória e o Nuno não gostou: telefonou-me três dias antes, desagradado por só então se ter apercebido de que seria o centro das atenções. Disse-lhe então o que ontem repeti: que estávamos ali para nos «homenagearmos» também, num reencontro para celebrarmos um passado de que nos orgulhamos e que, de uma maneira ou de outra, ele nos ajudou a construir. E que a nossa presença naquela sala era a prova daquilo que, certamente, ele mais gostaria de ouvir: que ainda não baixámos os braços.

"O Nuno encerrou a sessão, com a limpidez e a frontalidade habituais, quase lendárias:

«Estou velho, estou a chegar aos 90 anos. Há órgãos que me estão a falhar. Um deles é a memória, que se está a desfazer como pó, o que me causa um certo sofrimento. Além da perda da visão. Mas estou muito contente, porque esta sessão, tendo sido anunciada como de homenagem à minha pessoa, e não deixando de o ser, fez também justiça a todos aqueles que conhecemos e lutaram naqueles anos difíceis.»


Da notícia do Expresso online:

“O cidadão[ Nuno Teotónio Pereira] não quis apenas evocar o passado:

"Apelo a todos para que, em conjunto ou individualmente, façam o que for necessário, mesmo com risco, para acabar com situações de clamorosa desumanidade que existem no nosso país, muitas vezes mesmo ao nosso lado".


Jorge Sampaio: "A modéstia dos que são verdadeiramente grandes"

Nuno Teotónio Pereira, Jorge Sampaio, João Cravinho

"O ex-Presidente da República Jorge Sampaio foi o principal orador. Dirigindo-se ao "cidadão", destacou entre as suas muitas qualidades a "modéstia dos que são verdadeiramente grandes". Falando de improviso mas a partir de notas que preparara, Sampaio sublinhou ainda "a independência do seu percurso", a ponto de considerar que Nuno Teotónio Pereira "não é apropriável por ninguém".

"O ex-presidente da Câmara de Lisboa agradeceu ao arquiteto o quanto lhe ensinou sobre a capital. Da sua vasta obra, que inclui três prémios Valmor, Sampaio destacou a igreja de Almada, o bairro de Olivais Norte e o edifício "Franjinhas" na Rua Braancamp - além, claro está, da igreja que serviu de cenário à homenagem e a que se juntaram numerosos católicos, entre os quais os padres Bento Domingues e Jardim Gonçalves.

"No plano político, Sampaio não pôde deixar de evocar o dia 26 de Abril de 1974, quando Nuno Teotónio Pereira foi um dos numerosos presos políticos que foram finalmente libertados da prisão de Caxias. "O Nuno permaneceu sempre a mesma pessoa através de décadas, nos mesmos valores, nos mesmos princípios", afirmou Jorge Sampaio, chamando a atenção para a sua "constância e intemporalidade".
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Nota: Dificuldades técnicas atrasaram dois dias a publicação deste post.