2004/12/02

João de Freitas Branco e o Ginásio Ópera

De longe em longe tenho notícia do Ginásio Ópera e há dias encontrei no email, um convite do João de Freitas Branco para

uma iniciativa inédita em Portugal
1ª Temporada de Ópera Vídeo
de 11 de Dezembro de 2004 a 12 de Fevereiro de 2005 .

"Viva a Ópera em diálogo com o público, e em contacto directo com artistas e especialistas, ficando a conhecer os mecanismos da produção e realização desse espectáculo que é a Ópera e suas histórias."
Viva! Respondo eu.
Cada uma das sessões, que têm lugar no Hotel Vila Galé Ópera, em Lisboa, será dedicada a uma grande obra do reportório operístico e será constituída por três momentos distintos:

1º MOMENTO - um Colóquio/Recital dedicado à apresentação da obra e em que participam especialistas e cantores que interpretarão alguns trechos da ópera em questão. A 1ª é já a 11 de Dezembro com Madame Butterfly e no recital temos Ana Ester Neves (soprano) e Pedro Chaves (tenor).
2º MOMENTO - Um jantar no restaurante Falstaff.

3º MOMENTO - a projecção do filme sobre a ópera. Em colaboração com o Hotel Vila-Galé Ópera e com o apoio de várias instituições ligadas à vida cultural.

Os bilhetes podem ser adquiridos directamente na recepção do Hotel Vila-Galé Ópera até à hora do espectáculo ou nas lojas Fnac Chiado, Fnac Colombo, Fnac CascaiShopping, Fnac Almada Fórum . 28,00 € para sócios do Ginásio Ópera e 35,00 € para não sócios.
Mais informações? O secretariado do Ginásio Ópera: TM 96 5096820
Outros contactos? http://www.ginasioopera.com/ ginasioopera@mail.telepac.pt
Hotel Vila-Galé Ópera: Travessa Conde da Ponte 1300-141 Lisboa (junto á antiga FIL actual Centro de Congressos) Tel.:213 605 400 Fax.: 213 605 450.
O Ginásio Ópera tem o João a presidente da Direcção. Todos conhecem o João de Freitas Branco. Mas, mesmo assim, para aqueles que o não conheçam, acrescento umas palavras acerca do meu amigo filósofo, melómano e crítico musical da Antena 2.
Estou a falar do filho que é esse que conheço melhor. Mas, para falar do filho parece-me bem começar por dizer alguma coisa sobre o pai João de Freitas Branco, musicólogo e crítico de excelsas qualidades, que exerceu a cátedra na Universidade Nova e a Direcção do Teatro Nacional de S. Carlos, nos deixou, na imprensa generalista ou especializada, em revistas e colóquios muitos e valiosos testemunhos da sua intervenção na vida cultural portuguersa. Mas talvez mais que tudo isso ele cativou e cultivou os Portugueses com o seu programa radiofónico "Gosto pela Música" durante quase trinta anos. Falar do avô do meu amigo João, Luís de Freitas Branco e do tio-avô, Pedro de Preitas Branco seria levar longe demais esta breve conversa e ter de falar de dois dos maiores vultos musicais portugueses do século XX.

João de Freitas Branco, pai, foi quem me ensinou a gostar de música. A mim e a mais umas dezenas ou centenas de milhar de portugueses no referido "curso" de excelência "O Gosto pela Música". João de Freitas Branco falava da música, da grande música! e dava-a a ouvir na Lisboa 2. Mas com palavras tão próximas e amigas e com trechos tão bem seleccionados que mesmo os mais avessos à cultura e mesmo os que só tinham ouvidos para o fado, o vira ou passe-dobles paravam. E escutavam. E aí residia a armadilha. Ou o encanto.

Afinal "aquela música", com piano, violinos, grandes orquestras e cantores de óperas em tudo diferentes das cançonetas que o paupérrimo panorama cultural português da ditadura nos oferecia talvez até "aquela música" também fosse música. E o português do país de camponeses que éramos com ouvido apenas treinado pelo chilreio dos pássaros ou o marulhar dos regatos ainda nãopoluidos parava e ouvia. E aí estava a armadilha. Ficavam presos. Ou libertos. Do gosto embotado. Da penúria estética. E ganhos para a liberdade. Que gostar de música dá força à liberdade! e à vontade de viver e de ser solidários com os outros homens.
João de Freitas Branco, o pai, tinha ficado para mim, para sempre, um Grande Senhor da Música. E um Grande Amigo. Mas distante. Até um tanto inatingível... porque não o conhecia. Os homem de dotes raros julgamo-los inatingíveis, ou intocáveis e em geral não é assim. Os grandes homens os homens de grande cultura, os sábios, são em geral pessoas simples que ao estarem com pessoas simples como nós nos tratam quase com familiaridade. Por isso quando mais tarde alguém amigo vinha com João de Freitas Branco e me disse não conheces o João, o João de Freitas Branco? Eu estendi-lhe a mão, ele apertou-me a mão e pôs-se a falar, a falar comigo como uma pessoa igual às outras... e eu até disse várias coisas de que não me lembro.

O João, o filho, além de musicólogo e um amante da música e da Catarina e da filha Madalena e do filho João, é também filósofo.
Digo que ele é filósofo não apenas porque ele se licenciou em filosofia mas porque o ouvi dizer uma vez, quando lhe perguntaram o que era e ele respondeu filósofo. É questionável, tendo em conta os usos da terra, que um licenciado em Filosofia deva ser apontado como filósofo mas por um lado ele disse que era e por outro eu sei pelas conversas que ao longo de anos tive com ele que, como aliás muitos de nós, o João é um filósofo!
Mas se ele ministrava filosofia na Universidade do Atlântico até Marques Mendes deputado do PSD, ter tomado as rédeas desta universidade, no concelho de Oeiras, e despedido os professores de ideias demasiado à esquerda para seu gosto, o que mais relevo no João, depois da amizade, é os seus inesgotáveis conhecimentos de música que de vez em quando tem oportunidade de os colocar ao serviço da musicalmente pobre comunidade luzitana, na Antena 2.
O João que habita uma simpática vivenda em Caxias, residência que foi dos pais, tenta salvar a tradição familiar das tertúlias, eventos culturais de proximidade e reune periodicamente, em sua casa, ilustres representantes do meio cultural, particularmente da música e da poesia e os felizes convidados, seus amigos, petiscam aprimoradas vitualhas e disfrutam de momentos de apaziguamento, que nos fazem esquecer certas coisas desagradáveis do país, com belo canto, poesia e peças ao piano ou ao violino.
Conheci o João de Freitas Branco na política e travámos do mesmo lado da barricada, nos últimos anos de oitenta e primeiros de noventa do século vencido, algumas vigorosas escaramuças contra o que nos parecia então o descaminho de um património de luta pela liberdade do povo português que, de queda em queda, veio parar a Jerónimo.

Anos depois encontrei João em azáfama organizatriva numa das suas muitas iniciativas, era O Ginásio Ópera. Na altura convenci-me que os "muitos afazeres", me impediam de aceitar o seu convite para participar na construção de obra tão aliciante. Se algum de vocês tiver um convite destes, mesmo com muitos afazeres, aconselho a que aceitem.